A caminhada passou pelo parque linear das Corujas - foto Antonio Brasiliano |
Um roteiro e uma dose generosa de história da Vila
Beatriz. Assim foi a caminhada No Vale do Corujas, que aconteceu nos dias 17 e
18 de agosto, atividade que fez parte da Jornada do Patrimônio 2019, evento
organizado pelo Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), da Secretaria de
Cultura da cidade de São Paulo, cujo tema este ano era Memória Paulistana.
Saímos da nascente do Corujas em direção à Praça
Fioravante Salomão, cruzando a Praça Dolores Ibarruri (das Corujas) e o parque
linear. Durante o trajeto, trouxemos muitas estórias e compartilhamos um pouco
da memória do bairro, resgatada por meio de entrevistas com antigos moradores e
pesquisas em jornais antigos, documentos e livros.
Antes de surgirem os primeiros loteamentos do
bairro, no final dos anos 30, a região era ocupada por muitas
chácaras. Os primeiros moradores eram de origem humilde e
construíram suas casas com a ajuda de familiares e amigos em um local onde, no
início, não havia luz, água encanada e esgoto.
Com o tempo, o bairro foi recebendo melhorias e seu
perfil de ocupação foi se transformando.
Leia, abaixo, alguns trechos dos depoimentos que
registramos.
Começo de tudo
“Minha mãe fazia sabão em casa pra poder pagar as
prestações do terreno, além de ajudar o meu pai na feira.”
“Eu nasci na rua do Futuro, atual Rua
Natingui. Depois de dois anos, minha família mudou para cá onde moro. Aqui não
tinha água encanada nem luz. Aqui era lampião, vela e lamparina. Meu pai fez
uma casinha mais ou menos, dois barracões, um poço e uma fossa pra nós aqui. Eu
gostava. Gostava, não. Gosto. Nosso poço tinha 21 metros de fundura.”
Escolinha
“Estudei na escolinha de
madeira que tinha na esquina da Rua Isabel de Castela com a Rua Padre Artur
Somensi, por onde passava o Córrego das Corujas.”
“Eu nasci na rua Lira nº2. No mesmo local
funcionava a fábrica de móveis do meu pai, que ajudou a fazer a Igreja e a
escola de madeira do Padre Olavo, onde estudei.”
Infância
“Com o asfalto da rua (Isabel
de Castela), que era descida, vieram as brincadeiras como o carrinho de rolimã.
Eu e a molecada brincávamos também de bolinha de gude, empinar pipa e,
principalmente, jogar futebol contra outros bairros. No fim da rua tinha os
campos de futebol do meu querido Leão do Morro, no qual tive o prazer de jogar,
1º de Maio e o 7 de Setembro.”
Bailinhos
“Na época, no rádio e na
televisão era o auge da jovem guarda e o ‘Iê-Iê-Iê’. Cantores como Roberto
Carlos, Erasmo Carlos, Tim Maia, The Beatles, Johnny Rivers e Creedence
Clearwater Revival faziam a cabeça da gente. Eu e meus amigos Ivo e Flavio
(Magrelo) pegávamos a minha vitrola Delta juntamente com os discos de vinil,
juntávamos a turma e fazíamos bailes na garagem da casa da Cristina. Foi a
melhor época da minha infância, adolescência e juventude.”
Estórias da Vila
“Morei na Vila Beatriz, na Mário Pomponet, na
década de 70. Estudei o ginásio no (Escola Estadual) Carlos Maximiliano Pereira
dos Santos, na Vila Madalena. Era um longo caminho de casa até escola, passando
pela rua das Corujas e pelos terrenos baldios onde empinava pipa e jogava
futebol.”
O Corujas
“O rio transbordava muito. Era um lamaceiro. Na
minha casa nunca tive problema porque eu tenho três degraus. Mas chegou a levar
um carro. Imagina, vem toda a água da Heitor Penteado, do Alto de Pinheiros, da
Vila Madalena, aqui forma uma bacia. Alagava tudo.”
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fotos da caminhada: https://www.facebook.com/VilaJataiAltodePinheiros/